Após o decreto de Desapropriação por Interesse Social e antes mesmo da imissão de posse, as famílias passaram a ter acesso a políticas públicas como o Bolsa Família, a energia elétrica do Programa Luz para Todos, o Programa Arca das Letras (bibliotecas rurais). O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) também construiu cisternas que garantem água para consumo humano em muitas casas do Bonfim.
Mesmo antes do reconhecimento como quilombolas em 2004, as famílias do Bonfim foram substituindo a cana e estabelecendo uma diversidade considerável de culturas: diversos tipos de feijão (carioquinha, macassar, mulatinho, guandu), geralmente intercalados com o milho e mandioca, jerimum, quiabo, batata-doce, banana, laranja, caju, mamão, manga, jabuticaba, pitomba, goiaba, acerola, graviola, coco, limão, pinha, jaca mole e jaca dura, romã. Ao redor das casas há plantio de alho, coentro, fava e plantas ornamentais e medicinais.
São aproximadamente 7 mil pés de laranja-cravo (tangerina) e há quem crie alguns animais, como ovelha, vaca, porco e galinhas, seja para consumo próprio ou para comercialização na feira do município de Remígio.
O casal Divonete Gomes do Nascimento, 48 anos, e José Sebastião Gomes de Maria, 44 anos, possui 1.270 pés de laranja, que mostram com orgulho. Na primeira safra, no ano passado, foram colhidos 900 kg de laranja. Para 2011, a previsão é de que sejam colhidas 9 toneladas da fruta, que é vendida a R$ 0,90 o quilo.
O espírito de coletividade da comunidade foi reforçado pela horta orgânica e pela casa de farinha construída a muitas mãos, incluindo a modelagem dos tijolos de encaixe, e em funcionamento há pouco mais de três meses.
Na horta são cultivados coentro, alface, couve, pimentão, cebolinha, jerimum, chuchu, quiabo, maxixe e maracujá. “Não usamos nenhum agrotóxico. Nossos defensivos são naturais, como o Nim”, afirmou Geraldo Gomes de Maria.
Apesar de recém-inaugurada, a casa de farinha já vem dando lucro à comunidade. A cada semana as famílias produzem em conjunto aproximadamente seis sacos de 50 kg cada de farinha de mandioca. A farinha que não é consumida na comunidade é vendida a R$ 1,10 o quilo.
Nos últimos três anos as famílias do Bonfim começaram a acessar mais uma política social, desta vez de comercialização: o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que destina recursos do Governo Federal para aquisição da produção da agricultura familiar. Os produtos adquiridos são gerenciados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e destinados a instituições que atendam populações em situação de insegurança alimentar e nutricional.
Em 2009, o projeto do PAA foi no valor de R$ 60 mil, em 2010 de R$ 98 mil, e em 2011 de R$ 122,5 mil, valor máximo que se pode atingir, já que cada Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), instrumento de identificação do agricultor familiar para acessar políticas públicas, pode receber até R$ 4,5 mil por ano e a comunidade conta com 25 DAPs, incluindo homens e mulheres.
Hoje o Bonfim distribui seus produtos para 200 crianças do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), 60 alunos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e 700 pessoas atendidas pela instituição Bombeiros Voluntários, chegando a cerca de mil beneficiários.
Mais ainda há muito a ser conquistado. A comunidade ainda sofre com o acesso à escola mais próxima, no distrito de Cepilho. As crianças vão de carona em motocicletas porque o ônibus não passa na comunidade. A atenção básica à saúde também é falha em Bonfim, que não recebe visitas das equipes do Programa Saúde da Família (PSF).
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